Uma Braça e Dois Palmos
Nos trabalhos de Bruno Brito percebemos o repertório do Brasil profundo, manifesto no esforço de um homem só, capaz de transformar a natureza com as próprias mãos*. No seu imaginário estão presentes as festas populares, o pau-a-pique, a fala coloquial do homem simples. Uma braça e dois palmos, mais do que uma medida, representa o espaço definido a partir da escala do próprio corpo.
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* (…) Ponhava os dois estêio maior. Dois ou três, conforme tinha. Sempre seis, os estêio do lado: um metro mais baixo, e os do meio: um metro mais arto. E erguia na mão mêmo. Colocava aquele pau de pé, e socava bem socado. Fazia o buracão fundo mêmo, pra fazer o alicerce, direto na terra. Cimento? Cimento nem existia. Em cima do pau fazia um corte em “V”, depois pegava aquele pau cumprido que nem um mastro, só que mais grosso (a cumeeira), depois vinha puxando os caibro, pra fazer as tesôra e depois as ripa. O teiado era de sapê mêmo,“têia” é remédio na roça (…)
José Spaniol
Nos trabalhos de Bruno Brito percebemos o repertório do Brasil profundo, manifesto no esforço de um homem só, capaz de transformar a natureza com as próprias mãos*. No seu imaginário estão presentes as festas populares, o pau-a-pique, a fala coloquial do homem simples. Uma braça e dois palmos, mais do que uma medida, representa o espaço definido a partir da escala do próprio corpo.
Nesse contexto a casa surge como extensão da envergadura de seu construtor. Bruno incorpora na sua prática esse mesmo regime de adaptação e conformação entre as partes, mediado por um pensamento capaz de reunir diferentes meios: desenho, pintura, escultura etc. Embora os trabalhos tenham uma materialidade robusta, tornam-se leves pela simplicidade das soluções, estruturados na transparência.
O seu desenho tem um sentido amplo, constituído por uma linha certeira que preserva o gesto e a origem do movimento como num golpe. Bruno recorre a construções semelhantes à arquitetura, apenas para criar um teorema da paisagem. Olhamos para o objeto para pressentir o espaço aberto.
Novembro de 2014
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* (…) Ponhava os dois estêio maior. Dois ou três, conforme tinha. Sempre seis, os estêio do lado: um metro mais baixo, e os do meio: um metro mais arto. E erguia na mão mêmo. Colocava aquele pau de pé, e socava bem socado. Fazia o buracão fundo mêmo, pra fazer o alicerce, direto na terra. Cimento? Cimento nem existia. Em cima do pau fazia um corte em “V”, depois pegava aquele pau cumprido que nem um mastro, só que mais grosso (a cumeeira), depois vinha puxando os caibro, pra fazer as tesôra e depois as ripa. O teiado era de sapê mêmo,“têia” é remédio na roça (…)
Depoimento de Reinaldo Paes de Brito (Nardo Caló) tio avô de Bruno.
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